Tarifaço: 'capital do calçado', Franca vê exportações despencarem, e empresários fazem demissões
12/10/2025
(Foto: Reprodução) Setor calçadista de Franca vive dificuldades com tarifas de 50% dos Estados Unidos
Setembro foi o mês em que as fábricas de Franca (SP) mais sentiram os efeitos das tarifas impostas pelos Estados Unidos. Conhecida como a "capital do calçado", a cidade viu as exportações despencarem e empresários terem que fazer demissões.
Ao g1, o prefeito, Alexandre Ferreira (MDB), estimou que 2,5 mil empregos diretos e 10 mil pessoas foram impactados de alguma forma com o tarifaço.
Ele explica que os desafios se acentuam pelo fato de que os calçados fabricados para os Estados Unidos não podem ser redirecionados a outros locais devido a características específicas.
"Estamos com muita dificuldade com algumas empresas de calçados que tinham 100% das suas exportações voltadas aos Estados Unidos. Isso gera um problema gigante porque esse calçado é específico para a forma dos Estados Unidos, não serve para a Europa, não serve para o mercado interno, não serve para outros continentes. Ele tem componentes específicos, tamanho específico de altura de pé, largura, comprimento. Ele tem exigências de responsabilidade social das empresas que não são exigidas em outras comunidades", disse".
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Dados do Comex Stat, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, apontam que o mês de setembro registrou uma queda de quase 40% nas exportações de calçados de Franca para os EUA, em comparação com setembro de 2024.
Esse foi o primeiro mês de queda expressiva, já que, até então, a cidade vinha registrando um crescimento de 23% nas exportações no acumulado do ano.
Empresário de Franca, Julio Jacometi confirma essa mudança em setembro, com o cancelamento ou suspensão de acordos de venda que estavam prestes a ser executados. Diante do cenário, ele conta que precisou fazer demissões na empresa.
"A gente estava em uma crescente das exportações para os Estados Unidos, daí, simplesmente, com esse impacto de o governo não negociar um com o outro, perdemos totalmente o programa, nós tínhamos um programa de exportação de, no mínimo, 90 dias. Os clientes cancelaram os pedidos, tivemos que fazer demissão de funcionários. Bem complicado. Não tem perspectiva alguma [de melhora]."
Viagem aos EUA
No fim de setembro, um grupo liderado por prefeitos brasileiros viajou aos EUA para discutir os prejuízos causados pelas tarifas de exportação.
Representantes da Frente Nacional de Prefeitos e Prefeitas (FNP) estiveram em um evento em Oklahoma City e se encontraram com lideranças de municípios daquele país.
Segundo Alexandre Ferreira, os prefeito de lá disseram que não concordam com as tarifas, mas que as respeitam. Eles elaboraram documentos em conjunto a serem entregues aos governos brasileiro e norte-americano.
"Fizemos documentos endereços a eles, e eles também [fizeram] documentos endereçados a nós. Os dois documentos ratificando a necessidade de se ter um entendimento bilateral, um consenso, para que a gente não sofra com isso. Agora é estreitar esse caminho para construir um percurso que seja sólido e que a gente possa lá na frente conseguir reverter essa situação."
Ainda de acordo com Ferreira, outros debates devem acontecer durante a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30), que ocorrerá entre os dias 11 e 21 de novembro deste ano em Belém (PA).
Máquina trocando moldes de calçados em Franca (SP)
Igor do Vale/g1
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